
"Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Paixão e Carnaval
Meu zen, meu bem, meu mal"
(Caetano Veloso)
Onde é que o "eu", que eu sou se afoga? No amor, na paixão, ou na droga?
E que elos uniriam, porventura, esta última ao objeto do amor (ou do gozo)?Eros ou Thanatos?
E zen: é paixão ou quietude? Prazer ou nirvana? Busca, submissão, desistência ou entrega? Vida ou morte?
E o que, finalmente, pretendia com "carnaval" significar o poeta?A transgressão do proibido, ou algum intervalo autorizado de gozo (se é que isto existe)?
A ambigüidade poética desnuda e esconde os segredos do sentido. E a questão das drogas parece querer dissimular, por trás da obviedade da busca compulsiva de um prazer imediato e irrestrito, os enigmas da existência no mundo ocidental contemporâneo.
Onde quer que a droga compareça - seja na clínica ou nas discussões universitárias e acadêmicas - ela sempre busca apresentar-se como a questão essencial.
Contudo, quanto mais a encaramos, munidos de olhos e ouvidos psicanalíticos, aquilo que pretende mostrar-se como a questão principal termina por evidenciar-se como mais um sintoma a serviço da tentativa de calar aspectos fundamentais da vida e da subjetividade nos nossos dias. Digo isto sem qualquer intenção de minimizar a relevância do problema: seja para cada drogado, em particular, seja para a sociedade, de modo genérico.
"De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos." Confúcio
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