Quando eu era adolescente morador nascido na cidade do Rio de Janeiro já tinha uma consciência social bastante apurada, até porque na minha província com status de metrópole e alma de quintal, depois de uma hora da manhã todos os gatos e cachorros realmente eram e são pardos.
Pois as viaturas sempre chegaram devagar
E de repente, de repente resolviam me parar
Um dos caras saiam de lá de dentro
Já dizendo:- ai compadre, cê perdeu
Se eu tiver que procurar cê ta fodido
Acho melhor cê i deixando esse flagrante comigo
No início eram três, depois vieram mais quatro Agora eram sete, os samurais da extorsão Vasculhando meu carro, metendo a mão no meu bolso Cheirando a minha mão
De geração em geração
Todos no bairro já conhecem essa lição
E eu ainda tentei argumentar
Mas, tapa na cara pra me desmoralizar
Tapa, tapa na cara pra mostra quem é que manda
Porque os cavalos corredores ainda estão na banca
Nesta cruzada de noite, encruzilhada
Arriscando a palavra democrata
Como um santo graal
Na mão errada dos hômi
Carregada em devoção
É e sempre será o legado da ditadura, do forte oprimindo o fraco
do lixo varrendo as ruas e se sentindo o gari iluminado
o detentor da autoridade e da verdade suprema...
O cano do fuzil, que defende
também Reflete o lado ruim do Brasil
Nos olhos de quem quer
E quem me viu, único civil
Rodeado de soldados
Como seu eu fosse o culpado
(No fundo querendo estar)
A margem do seu pesadelo
Estar acima do biótipo suspeito
Nem que seja dentro de um carro importado
Com um salário suspeito
Endossando a impunidade
A procura de respeito
(Mas nesta hora) só tem (sangue quente)
Quem tem (costa quente)
Só costa quente, pois nem sempre é inteligente
Peitar um fardado alucinado (muitas vezes viciado)
Que te agride e ofende (pra te levar)
Pra te levar alguns trocados
Resquício de ditadura
Mostrando a mentalidade
De quem se sente autoridade
Nesse tribunal de rua
Que julga, condena e executa...
mal sabendo que fazem parte
do grande plano da casa grande
onde os escravos açoitam irmãos
e subjulgam iguais...
Hoje aos quarenta
do lado certo ou errado da força
me vejo julgando e condenando e executando iguais.
filhos dos amigos meus
irmãos da mesma raça
senhores de coisa nehuma
enteados da violência
que vivi e ajudei a fazer crescer.