terça-feira, 31 de julho de 2012

1º de Agosto

 A velhice é a etapa complementar...

  Hoje, pelas contas dos homens faço mais um aniversário. Me vejo num divisor de águas, meu pai morreu com a idade anterior a esta que "primavero" neste instante. Meu herói, meu ícone não viveu tanto quanto eu. Mas isto não é desmerecedor da existência dele, comparo-o a um Heleno de Freitas, um Renato Russo, um Jack Kerouac, um Pepê da asa delta. Personagens que viveram pouco em números, porém demais em intensidade. Meu pai cruzou mares,fez amigos, mergulhou profundo como operador de sonar nos submarinos da briosa Marinha de Guerra, foi admirado, conheceu damas e senhoritas nos portos e nas vielas, foi erudito, criativo, amante e amado.
  Durante anos achei que morreria com a idade da passagem dele, na verdade acho que queria isso...não conseguia me imaginar vivendo mais e fazendo menos, fiz de um tudo para superá-lo. Quis mais mulheres, mais viagens, mais estudos...e por fim (apesar de alguns tantos acertos) tenho a certeza que não consegui. Agora tanto faz 43, 45, 53 ou 69 anos. Eu não sou a cópia fiel, esculpida em carrara de Agnaldo Elias, sou Arnaldo Greg e como dizia meu velho: - Acabou, Fim!!!

sábado, 21 de julho de 2012

A folga do poeta... (Daniela Pereira)


Apetece-me escrever sobre o mar...
Sobre as ondas que nascem tão cheias de orgulho e fortes
e depois logo morrem com vergonha de engolir o mundo
numa só vaga...
Apetece-me escrever sobre o céu...
Aquele infinito que tantos poetas cantam no papel
mas quando olho pela janela...
vejo nuvens e mais nuvens...
e nem se quer sabem a algodão doce
porque já as tentei soprar , mas são tão espessas
que nada as remove do meu cenário
pintado com tinta azul...
Alguém roubou todas as cores do meu tinteiro...
e eu imagino um horizonte coberto de tons cinza...
Apetece-me escrever sobre o amor...
Aquele sentimento tão imenso
que nos leva a ser crianças 24 horas por dia
sem nunca hesitar em dar o salto...
o salto em queda livre...
a queda para o precipício..
O Amor...
Divino...sorrateiro...encantador....
Farpa que cega o olhar mas o rasgo fica no peito...
Gesto celestial de entregas e partilhas
por vezes tão debilmente equilibradas...
Eterna fonte da juventude...
curiosamente salgada quando chega ao fim...
A única eternidade que termina..
mas não é falsa...é só fraca
porque se deixa abater bem devagar
batendo com a cabeça contra os teus sonhos.
Apetece-me escrever sobre o ódio...
Sentimento banal mas recheado de tanta verdade
naqueles ossos ingratos...
Tem lágrimas geladas a caírem-lhe incessantemente pelo rosto abaixo
por isso dizem que o ódio é um sentimento feio...
e ele acredita e sente raiva por ser assim..
um monstro tão hediondo
que na verdade só quer voltar a ser bela adormecida...
pura e doce
sem mágoas nem despedidas a rasgarem-lhe a carne de seda...
Talvez por isso o ódio não goste de mim..
não se dê bem com o ar que respiro...
Sabe que já fui fada e tinha magia na ponta dos dedos
e que bastava abanar uma varinha de condão
para esquecer que o ódio existe
porque só o mel me entrava regularmente na boca...
Mas eu também não gosto dele...
calha bem..
assim o nosso Amor não resiste...
E o mar ainda tem ondas
e vagas fortes para me afogar
se me fartar da tranquilidade dos rios...
E o céu ainda pode ser pintado por mim
com a cor que bem me apetecer...
Por isso se acordar com vontade de o ver púrpura..
púrpura para mim será!
E de nada vai valer ouvir vozes de burro
pedindo estrelas e luares de prata
porque se eu quiser dentro de mim
o céu também pode ser breu
como pode ser um arco-íris
com cores nunca vistas pelos mortais...
Porque se eu quiser ser Feliz...
não há dor nenhuma no mundo
que me consiga impedir
de sorrir de novo para o mundo...
nem que tenha que construir o meu sorriso
dente por dente...
Por isso..
Hoje não acho que não me apetece escrever sobre nada...
escrevam vocês por mim...
escrevam vocês em mim...
porque hoje os meus dedos
têm fome de leitura...